As artes cênicas são uma das artes mais bonitas que conheço. Nelas quantas fantasias já se tornaram tão reais, tão possíveis. As artes cênicas trazem até nós os sonhos, a magia e também muitas vezes a realidade. São imitadoras e criadoras de ideias, comportamentos, pensamentos, desejos… Assistimos toda essa magia, choraramos e rimos, nos emocionamos, fantasiamos, sentimos a beleza… Mas quando acaba um filme, uma peça, uma novela, voltamos à realidade?
Porque muitos de nós muitas vezes insistimos em fazer das nossas vidas um palco de encenações? Será mais fácil vestir uma máscara do que vestir nosso próprio coração? Será mais fácil encenar do que sermos nós mesmos? Imagino que talvez o mais difícil seja nos aceitar. E é por isso que sempre bato palmas de pé quando encontro pessoas corajosas – que não se importam em ser elas mesmas- e vivem uma vida única!
Motivos não faltam para levarmos a vida dessa maneira. Seja por não sabermos quem somos, por saber quem somos e não gostar disso, ou por já termos uma plateia que adora o nosso personagem, – claro! sem saber que se trata de um personagem – seja por achar que seremos mais aceitos maquiados, matando os nossos sonhos, nossas vontades, o nosso “eu lírico” cada dia em que deixamos nosso personagem crescer, a ponto de nos confundirmos. Quem é quem?
Pessoas que fazem de suas vidas peças interminavéis são com certeza mais infelizes, as mais infelizes, creio eu. Esses personagens não nos deixam ajudar ninguém, fazer diferença na vida de ninguém – diferente das artes cênicas! – porque com eles somos tristes, -bem lá no fundo- e quem é triste só se lamenta, para ajudarmos precisamos estar bem com o que temos e somos.
Essa semana entrei em uma livraria – aliás é quase impossível passar em frente de uma delas e não ser atraída por um ímã, que tenho certeza de que há vários escondidos dentro de cada livraria, biblioteca, sebo, que sempre me puxam, me gritam, quase imploram para eu entrar !!! – e já estava lá há algum tempo virando e revirando livros, – não tinha um tostão furado – e um dos vendedores já tinha percebido isso, mesmo assim resolveu se aproximar de mim e perguntar qual último livro eu tinha lido, e resumindo… Fiquei por lá mais de meia hora, conversando com ele sobre livros em comum, sobre a vida, e desejos… E durante esse tempo ele não usou sua lábia de vendedor pra cima de mim- por mais incrível que pareça – e quando decidi terminar o papo e ir embora ele disse: “ Tudo bem então. Bom dia!”
Isso foi tão surpreendente pra mim, sabe porque? Ele se interessou pelo o que eu era – minhas ideias, livros, pensamentos – em um momento que eu não estava usando nenhuma daquelas “maquiagens” que costumo colocar as vezes durante o dia! E o mais legal? Foi que ele não se aproveitou disso para vender seus livros ou me paquerar ou qualquer outra coisa do tipo. Foi só uma conversa desinteressada de ambas as partes. Você pode até achar tudo isso uma bobagem, mas tem que concordar comigo : Onde é que se encontra hoje por ai, alguém sem interesse algum, afim apenas de conhecer pessoas e lugares, trocar informações, absorvendo o melhor que puderem, sem nenhuma expectativa que nos obrigue a vestir máscaras ?
Independente de existir pessoas assim ou não, gostaria de poder fazer dos meus olhos um espelho do mundo, e conhecer o máximo de lugares e pessoas, informações, músicas, artes… E então assim poder parar de usar algumas velhas mascáras por uns dias, por um tempo, pra sempre.
Ariane Sousa
Especuliar 